Filosofia para quem não é filósofo?
Sim, não é impossível. Falo por mim próprio, já que nunca me considerei um filósofo, mas sou atraído pelos filósofos. A filosofia é para mim, talvez o mais doce dos divertimentos, estudo porque acho divertido, mas posso um dia não mais gostar. Me sinto atraído por tudo aquilo que me é diferente, a minha relação com a filosofia não vai além de um flerte, o que se pode esperar de alguém assim? Não irei elaborar nenhum grande sistema, deixo isso para quem já o fez; Platão, Hegel, etc. Concordo que ser filósofo não é elaborar sistemas, teorias, mas está bem mais ligado na forma de interpretar o mundo, também de mudá-lo. A teoria não é indissociável da prática.
Meu pensamento ético é algo que diz respeito apenas a mim, não desejo que ninguém adote meu pensamento, odiaria que algo feito por mim e para mim; acabasse por se tornar uma corrente de pensamento. Penso na tristeza de Marx em relação aos marxistas, de Jesus em relação aos cristãos, etc. Não tendo quase nenhuma das características presentes nos grandes filósofos, o que resta então para minha pessoa? Quase nada, mas o que é essencial no estudo da Filosofia.
Você, meu querido leitor, já deve estar me achando bastante contraditório. Mas calma, eu posso explicar. Percebo uma certa similaridade em todos os pensadores. Independente de qual época, contexto; eles sempre possuem algumas características e até comportamentos, que não são opostos. O gosto por aprender, o desejo de conhecer, a inquietude do pensamento, essas são algumas das características que unem os filósofos, mas nem todos necessitam expressar de igual forma. O fato de Rousseau ter escrito mais que o Epicteto, não torna o Rousseau mais filósofo que Epicteto.
Sinto que você que está lendo, já está começando a me entender melhor, mas por que não me considero um filósofo? Estou longe do mais simples pensador que existiu. Existe um abismo entre mim e um filósofo, só sei daquilo que não gosto, mas consigo seguir o que me atrai. O que não gosto é quase sempre aquilo de que meu pensamento se ocupa; enquanto os meus sentimentos me guiam para o que amo, minha razão é inferior ao meu sentimento. Meu pensamento não me guia para nada de nobre, mas os meus sentimentos, eles são a essência do que sou. Sempre tive uma intuição maior do que meu pensamento, mas não sou empirista; não acredito que a experiência seja superior a racionalidade, não vejo a razão em um eterno combate com a experiência. Mas em minha vida, vejo que a razão não é o ponto principal de minha forma de viver, também não sou um pós-moderno, cheguei na filosofia pelo sentimento, mas não pela razão.
O que me faz estudar filosofia é o prazer, é o amor que sinto. Se fosse apenas pela razão, creio que já teria desistido. Mas existe uma sensação por detrás de toda teoria, essa sensação me encanta, me convida a se aproximar. Na mesma medida, sinto minha razão se afastar, mas ela possui uma certa participação. Sinto estar bem próximo da filosofia de Rousseau, uma espécie de razão guiada pelo sentimento. Mas tudo que me faz feliz não me torna um filósofo. Porém, eu acredito que existam filósofos, não é porque não me considero, que não acredito na existência de filósofos. Quando leio algum texto filosófico, eu sinto uma conexão com o pensador, mas ao mesmo tempo; eu não me sinto próximo dele, sei do que ele está falando, sei dos termos que ele utiliza, entendo sua maneira de pensar, mas toda essa linguagem não me é familiar. Sou como um indígena que está vivendo em uma outra tribo, é tão igual, mas ainda assim, é tudo tão diferente!
Este é o fim de meu texto, mas reforço a ideia, de que não é necessário ser filósofo para que você estude filosofia. Pretendo usar deste espaço (blog), e nele eu irei explicar alguns conceitos da filosofia, fazer algumas críticas aos pensamentos de alguns filósofos, mas nunca com a pretensão de ser mais do que eles, ou de sequer ser como eles, ou seja, de ser um filósofo.
